terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Humanismo e Renascentismo

            7).  A compreensão desses séculos não é possível  sem atentarmos à maneira  como
o Ocidente cristão retomou a literatura dos clássicos pagãos e, no caso específico da
filosofia, como se retomou  a literatura dos filósofos gregos.
   Apesar dos progressos nos estudos filológicos, no que concerne ao mundo latino,
os séculos XV e XVI mantiveram - se muito crédulos, em relação à literatura grega,
aceitando tradições hoje reconhecidas como espúrias. Retomou - se, sobretudo,
a literatura de Platão, impregnado de elementos do neoplatonismo e do neopitagorismo
e mesmo de elementos provenientes de outras tradições, como as do mundo oriental, do
mundo egípcios e das tradições cristãs.
     Em alto apreço são tidos, por exemplo, o Corpus hermeticum,  os oráculos caldaicos
e os hinos órficos. ( Os hinos Órficos são um conjunto de composições poéticas pré clássicas, atribuídas ao culto do herói Orpheu ).  A primeira dessas obras é atribuída a Hermes Trimegisto
que, na realidade, é figura mítica.  Indica um deus egípcio Thoth, que os gregos acharam
semelhantes a Hermes,  intérprete e mensageiro dos deuses.  Daí o epiteto Trimegisto, isto é,
três vezes máximo.  A obra é do século II e III e V. Sob a máscara do deus egípcio escondem - se  vários autores. 
     Os livros ressumam doutrinas platônicas  platonismo
 Doutrina do filósofo grego Platão (428 a.C.-348 ou 347 a.C.) e de seus seguidores, caracterizada esp. pela concepção de que as ideias eternas e transcendentes originam todos os objetos da realidade material, e que a contemplação dos seres suprassensíveis determina parâmetros definitivos para a excelência no comportamento moral e na organização política.    Qualidade do amor platônico; castidade, idealidade [Segundo Platão, o amor mundano e carnal pode se tornar, por meio da ascese filosófica, uma afeição contemplativa por realidades suprassensíveis.]
 Amor a distância,  inconfesso e idealizado; embevecimento casto pela pessoa amada.
   Com forte acento neoplatônico. É um sincretismo ( fusão de diferentes cultos ou doutrinas religiosas, com reinterpretação de seus elementos.)  entre neoplatonismo e cristianismo. A obra
Oráculos caldaicos, atribuída a Zoroastro é, na realidade, produção do século II e V. Comtém
a mesma mistura de média platonismo e neopitagorismo.  Finalmente, os hinos órficos, de 
composição tardia, da época helenístico - imperial, contém doutrina que remonta ao orfismo
primitivo ( Orfismo (mais raramente orficismo) (grego antigo: Ὀρφικά) é o nome dado a um conjunto de crenças e práticas religiosas originárias do mundo grego helenista bem como pelos trácios, associada com a literatura atribuída ao poeta mítico Orfeu, que desceu ao Hades e voltou. )
    Misturado com elementos estóicos ( O Estoicismo é uma escola de filosofia helenística fundada em Atenas por Zenão de Cítio no início do século 3 a.C. Os estoicos ensinaram que as emoções destrutivas resultavam de erros de julgamento, a relação ativa entre determinismo cósmico e liberdade humana e a crença de que é virtuoso manter uma vontade (chamada prohairesis) que está de acordo com a natureza. Devido a isso, os estoicos apresentaram sua filosofia como um modo de vida e pensavam que a melhor indicação da filosofia de um indivíduo não era o que uma pessoa diz mas como essa pessoa se comporta.   Para viver uma boa vida, era preciso entender as regras da ordem natural, uma vez que ensinavam que tudo estava enraizado na natureza. ) 
    Com essas obras, é todo um reflorescer de tendências  Magicoteúrgicas( Magia Teúrgica trata de Teurgia, uma ciência que permite invocar certas forças dos mundos sutis; é a Arte de manifestar o espiritual.) que vai influenciar os autores humanistas que, no entanto, lendo-as, pensaram
entrar em contato com literatura bem mais antiga, digna de venerada consideração, 
porque mostraria uma unidade religiosa entre Egito, Caldéia, Grécia e o mosaísmo, portanto,
o cristianismo.
  Até a próxima !

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Teologia Contemporânea e a filosofia humanística - de antininamartins2012@gmail.com

                                         Afinal ! A que veio o humanismo ?
       Bom ! O humanismo renascentista de acordo com Tiago Adão Lara, Professor da uni
versidade Federal  de Uberlândia, a partir do qual a perspectiva medieval teocêntrica,
começou  a perder a hegemonia, em favor da perspectiva antropocêntrica. São apontadas as
linhas de fuga de um movimento que, entre avanços e recuos se impôs e , hoje, é reavaliado.
     O professor discorre. Houve uma época, na história do Ocidente, na qual refletir sobre o
homem, falar dele ou escrever sobre ele, era sinal de ousadia, avanço intelectual  e modernidade.
O humanismo estava em alta.
    Hoje, assistimos; discorre o professor: a fenômeno inverso. Faz algumas décadas, que o
homem, sua especificidade, seu caráter de ponto referencial de inteligibilidade e de ajustes
'axiológicos' ( Que constitui ou diz respeito a valores ), caíram em descredito. Ser ou
proclamar - se humanista é ser retrógrado. Pior, é comprometer - se com uma visão de
mundo  e com um sistema de valores que produziram frutos peçonhentos ( como veneno de
serpente ), dos quais 'urge' ( solicitar com urgência ) nos libertarmos. 
   O período de alta do humanismo chamou - se modernidade. Daí, discorre o professor:
Falar - se, hoje, de pós-modernidade. 
   Houve um momento na forte história do Ocidente, no qual a perspectiva humanista de
cultura recebeu alento propulsor.
                                              1).  A Europa em mutação 
    O século XIII marcou o apogeu da civilização cristã ocidental, evidenciando também suas
fragilidades. A partir dos fins do século XIV, com efeito, até fins do século XVI, a Europa
viveu nova época histórica: a do humanismo renascentista, útero fecundo da modernidade. 
   Séculos de efervescência econômica, política, social e cultural. Séculos de revolução reli-
giosa. Séculos que iniciaram a configuração de novo imaginário social, não mais centrado
em Deus, mas no homem como valor supremo.
                                          a) As mudanças sócio econômicas.
    Deram- se elas na direção do crescimento do comercio , quer na Europa, quer da Europa
com o Oriente.  As cruzadas ( 1095 - 1270 ), a guerra dos cem anos ( 1337 - 1453 ) e a das 
duas rosas ( 1455 - 1485 ), a estagnação das atividades agrícolas, os períodos dos desastres 
climáticos, que produziram escassez, fome, peste e morte, com decréscimo violento da
população europeia, são alguns dos fatores que influenciaram na desintegração do
feudalismo e  da economia rural  e no fortalecimento da burguesia comercial, com sede
nas cidades ( os burgos ), cujo ressurgimento começou a operar - se a partir do século
XI ; portanto,ainda na idade Média.
                                              2). As mudanças sócio-políticas
   Evidenciaram - se, sobre tudo, no fato de o poder real sobrepor - se ao dos  senhores
feudais, com a convivência e auxilio dos burgueses. A esses, ciosos de superar  os mil e um
entraves  que a pluralidade do poder político, no feudalismo, criava para o seu comércio,
interessava apoiar  os reis na luta contra a nobreza agrária e contra o poder da igreja.
   Firmaram-se, então, as primeira monarquias nacionais: Inglaterra e França; depois,
Espanha e Portugal seguiram o mesmo caminho. Nascia ai o Estado Moderno.
                                             3). Oque são as monarquias nacionais ?                                                        No final da Idade Média a economia auto-suficiente e o poder descentralizado típicos do feudalismo foram gradualmente substituídos por uma economia comercial e pelo poder centralizador dos soberanos, originando as monarquias nacionais centralizadas, para atender aos interesses dos reis e da burguesia em ascensão. 
    O poder real passou então a ter maior domínio e influência no território europeu, sendo quase tão poderosas quanto a Igreja e o Papa.
    Esse Sistema Político surgiu com o crescimento das cidades europeias e os problemas feudais, algumas partes da Europa o rei assume o posto de controlar e resolver as questões políticas.
       Para recuperar o prestígio e o poder e superar os senhores feudais, os burgueses se tornam aliados dos reis, essa parceria resultada em acelerar a ascensão do capitalismo. Assim os reis e os burgueses tornam-se responsáveis por questões relacionadas a evolução do comércio, questões jurídicas, organização para a cobranças de impostos entre outras. E para firmar e fortalecer o domínio do rei, a corte real passou a ser corte suprema de justiça da nação.
        Com a mudança do sistema político foram formuladas teorias renascentistas, que eram difundidas pela imprensa e que justificavam a centralização do poder real, enfraquecendo a influência da Igreja nos assuntos políticos. O renascimento cultural e a reforma protestante, através das igrejas nacionais, fizeram com que a Igreja se colocasse sob a autoridade dos reis. 

                                              4). As mudanças sócio-culturais.
   Também elas afundaram raízes na própria dinâmica medieval, nas suas limitações e nas
suas contradições, bem como em muitos dos seus valores. O humanismo renascentista não
não significa, pois, ruptura absoluta com a idade Média; muito menos ainda simples
continuidade.  É portanto uma nova época na história do Ocidente, entre o medievo e a
modernidade. 
   Se a idade Média chama-se época de civilização cristã, a modernidade estruturou-se como
espaço de 'laicidade' ( doutrina ou sistema que preconiza a exclusão das Igrejas do exercício do poder político e/ou administrativo. ) cultural e institucional. Nesse sentido, o humanismo 
renascentista colocou os germes da convicção laica, a qual a Reforma e as guerras de religião,
que se seguiram, ajudaram a crescer e a amadurecer.
                                                5). As revoluções religiosas.
    O comprometimento do clero cristão com a ordem sócio-politica medieval, a par das
vantagens de poder que trouxe à igreja , foi responsável por uma série de desgastes morais.
  Enfraqueceu-se, sobremaneira, o específico da função da igreja: sua pregação, sua vivência
e disciplina religiosas. É por isso que, desde o século XIII, senão, antes, frequentes vozes  se
levantaram em prol de reformas, exigidas cada vez mais com insistência  e com mais radicalidade .  
  Bastaria recordar aqui, João Wyclif ( 1320 - 1384 )John Wycliffe
John Wycliffe foi professor da Universidade de Oxford, teólogo e reformador religioso inglês, considerado precursor das reformas religiosas que sacudiram a Europa nos séculos XV e XVI.
  E João Hus ( 1368 - 1415 ), na Inglaterra e na Boêmia, respectivamente, mas foi na 
Alemanha que explodiu, com êxito, na voz de Martinho Lutero( 1483 - 1546 ). Em 1517,
afixou ele, na porta ta catedral de Wittemberg, suas teses contestadoras. Era o estopim
à explosão que acabou com a unidade religiosa da Europa. Em pouco tempo, várias eram
as confissões cristãs, que divergiam e até, lutavam entre si.
   Nesse quadro torna- se inteligível a nova mentalidade, da qual o humanismo renascentista
é a primeira manifestação eloquente .
                                              6). Humanismo e renascentismo.
   São duas realidades que partem de um mesmo movimento. Existem autores, no entanto,
que falam do humanismo do século XV e do renascimento do século XVI.
      O termo humanismo liga-se à expressão  LITTERAE HUMANAE ( Literatura humana )
em oposição a ( literatura divina: Bíblia, Teologia ).
     Humanistas se diziam, já nos séculos XIV e XV, os cultores da gramática, retórica, poesia,
história e filosofia moral; portanto das humanidades, pois essas disciplinas se julgavam  as mais aptas a formar o ser humano. Os autores gregos e latinos, a partir da segunda metade do
século XIV, passaram a ser olhados como modelos insuperáveis em literatura e mestres
exímios ( que é perfeito, superior, excelente.) de humanidade.  O movimento foi, pois, nos 
inícios, essencialmente literário e se casou perfeitamente com todo afã de renovação cultural
que tomou conta da Itália e, depois de outros países europeus, caracterizando-se por uma
enfatização dos valores humanos, frente a mentalidade medieval, centrada em valores 
religiosos(divino). O termo humanismo, contudo, não existiu na época.
  Foi forjado no século XIX para indicar formação clássica em oposição à científica.  
Passou, depois, a aplicar-se ao movimento dos séculos XV e XVI.

Continua na próxima